Algo que escapa
Como cantam Letrux e Marina Lima, da próxima vez venho ao contrário.
Listo as palavras que mais gosto: contemplação, minúcias, sutileza, nuances, demora. Sinto que não alcanço seus significados. Elas estão na minha frente, mas tateio o abismo entre nós como se estivéssemos no escuro.
As minhas mãos são minha forma de estar no mundo, ainda que meus gestos sejam o avesso das minhas intenções. Quero me aproximar do significado da palavra minúcia, mesmo com a língua áspera e as mãos escorregadias.
O que alcanço com meus olhos me diz muito pouco sobre a realidade — a córnea é coberta de fantasia. A lente dos óculos escancara tudo que pode ser vítima da minha interpretação.
Não me movo do meu corpo. As mãos, os olhos, a falta de compostura. Combinação estridente dentro da minha cabeça.
As palavras que mais gosto: minha utopia. Gostar: minha outra forma de estar no mundo — a tentativa de reverter o gesto, de assentar intenções.

